sábado, 7 de março de 2015

Quem precisa saber escrever?

Quem precisa saber escrever?

Marta Medeiros

Recebo e-mails de pessoas com idades e profissões diversas. Outro dia, chegou a mensagem de um sujeito muito gentil, fazendo comentários elogiosos à coluna. Cometeu alguns erros gramaticais comuns, como acontece com meio mundo, mas o que me surpreendeu foi que ele se despediu dizendo: “Desculpe por não escrever o Português corretamente, mas sabe como é, sou estrangeiro”. O raciocínio era que se ele fosse escritor, jornalista ou professor, escrever certo seria obrigatório, mas sendo estrangeiro, estava liberado dessa fatura. Assim como ele, inúmeras pessoas acreditam que escrever não está na lista das cem coisas que se deva aprender a fazer direito na vida. Antes de aprender a escrever bem, esforçam-se em aprender a falar inglês fluente, a jogar golfe e a utilizar o hashi num restaurante japonês. Escrever bem? Não parece tão necessário, já que a gente acaba sendo compreendido igual. “Espero não lhe incomodar com esse e-mail, é que faço jornalismo e queria umas dicas”. O recado foi dado. É preciso dizer que não há ninguém que seja imune a erros. Todo mundo se engana, todo mundo tem dúvidas. Não conheço um único escritor que não trabalhe com um dicionário ao lado. De minha parte, sempre tenho uma consulta a fazer no Aurélio, nunca estou 100% segura, e mesmo tomando todos os cuidados, erro. Acidentes acontecem, o que não pode acontecer é a gente se lixar para a aparência das nossas palavras. Escrever bem - não estou falando de escrever com estilo, talento, criatividade, apenas de escrever certo - deveria ser considerado um hábito tão fundamental quanto tomar banho ou escovar os dentes. Um texto limpo também faz parte da higiene. Bilhetes, e-mails, cartões de agradecimentos, tudo isso diz quem a gente é. Se você não sai de casa com um botão faltando na camisa, por que acharia natural escrever uma carta com as letras fora do lugar? Sábado, 23 de abril, é o dia Mundial do Livro, data instituída pela Unesco. Sei que todos estão carecas de saber a importância da leitura na vida de uma pessoa, mas não custa lembrar que, quem não lê, corre muito mais riscos de dar vexame por escrito, e isso não é algo a ser considerado só porque se trabalha numa profissão que, aparentemente, não exige familiaridade com as palavras. Ninguém precisa ser expert, mas ser cuidadoso não mata ninguém. Meu irmão, outro dia, me escreveu um e-mail rápido para recomendar um disco e nunca vi meia dúzia de frases tão bem colocadas. Nem parecia um engenheiro. (Jornal Zero Hora, Caderno Donna, 24 de abril de 2005) Comentário Jussara: Em tempo de Bienal do Livro, achei interessante reproduzir essa crônica em meu site - de uma de nossas melhores escritoras gaúchas. Concordo plenamente com ela.


Sou fã da  JUSSARA HOFFMANN  e ao ler artigo na página dela, quero compartilhar com todos.....

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